«Hoje temos um grande entrave à internacionalização do País e à boa imagem do país que é o SEF, que não tem sabido responder às necessidades do turismo, dos passageiros e do país, tornando-se um problema que não conseguimos minimamente controlar», acusou José Luís Arnaut, chairman da ANA – Aeroportos de Portugal, no painel dedicado ao tema “A internacionalização e o futuro no setor do Turismo”, nos Open Days PME Connect, uma iniciativa que decorre no Auditório da Casa da América latina e UCCLA, em Lisboa.
Tendo em conta os fatores externos que têm forte impacto em Portugal, José Luís Arnaut falou no caso do Brexit, que pode criar uma situação complicadíssima para o SEF. «Basta pensar que todos os dias temos 18 voos a vir do Reino Unido, e todos esses passageiros terão de passar pelo SEF. Em Lisboa e Porto é dramático, em Faro pode ser caótico», avisou. Na mesma linha, Pedro Santos Silva, diretor financeiro do Pestana Hotel Group e administrador do Grupo Pestana Pousadas, salientou o impacto do funcionamento do SEF na aposta no Turismo, «que faz com que as coisas corram mal logo à partida».
No painel sobre a internacionalização e o futuro no setor do Turismo, o moderador, Rui Gidro, partner da Deloitte, salientou o grande crescimento do Turismo em Portugal, uma indústria de peso que representa 14% no PIB nacional (dados de 2017), e lançou o debate sobre as várias perspetivas do turismo para os players envolvidos.
Miguel Frasquilho, chairman da TAP, referiu que «só conseguimos sair da crise em que a Troika teve de intervir porque o nosso tecido empresarial se soube adaptar e percebeu que tinha de se virar para fora». Até 2010/2011 as exportações estavam nos 30% e passaram para os 44% atuais, mas ainda estamos abaixo de outros países da mesma dimensão e acima 50% conseguimos ser sustentáveis. «Foi, de facto, graças aos nossos empresários que foi possível esta recuperação da nossa economia, e não há outro caminho para melhorar a economia nacional», reforçou.
Pedro Santos Silva defendeu que o turismo é um mercado que, para crescer, tem de ir para fora, mas questionou: «Será que Portugal vai conseguir acompanhar este crescimento?». Portugal é um mercado com problemas estruturais sérios, alertou o responsável: ainda é um mercado dependente de fatores externos, como as quebras de turismo noutras regiões do globo; quer queiramos, quer não, é um mercado periférico, dependente, por exemplo, da falência de operadores aérea – basta ver o caso da Madeira, onde este factor tem um impacto que não se consegue colmatar –; falta ainda formação qualificada no setor; e temos a questão do aeroporto de Lisboa, de que dependem muitas regiões do país, entre outros fatores
determinantes.
José Luís Arnaut referiu que «95% dos turistas chegam a Portugal, chegam de avião, o que é uma grande responsabilidade, e houve, entre 2013 e 2017 um forte crescimento na atividade aeroportuária», e todos concordaram na importância de um aeroporto para o estímulo do turismo nas regiões.
Raúl Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria, realçou que «a região Centro há muito tempo tem a pretensão de criar uma infraestrutura aeroportuária, que se justifica porque temos uma âncora fortíssima que é Fátima, com sete milhões de peregrinos por ano. Para além disso,
é uma região onde há um enorme património classificado, com muitos visitantes por ano, e há outras áreas como o turismo das ondas, com muita expressão». «Para quem não sabe, há muitos empresários com aeronaves privadas a aterrar em Monte Real, porque somos claramente uma região internacionalizada em termos empresariais, mas precisamos de ser
apoiados com estruturas, com apoios para formar e receber pessoas para trabalhar, com mais de um milhar de estudantes internacionais só em Leiria», destacou o autarca.
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do Grupo VilaGalé, falou do processo de internacionalização do Grupo e das particularidades de entrar em novos mercados internacionais. No caso do Vila Galé, o processo de aprendizagem no Brasil não foi fácil, até por coisas simples como a comunicação, mesmo falando do Brasil, porque as expressões não
são as mesmas, mas, como já existia algum conhecimento de operadores europeus a operar neste país, o Grupo achou que seria uma boa aposta, «e que conseguiríamos levar turistas da Europa para lá».
«As diferenças significativas na cultura, a forma de lidar com os fornecedores e tudo tratado localmente e não nacionalmente/regionalmente, com três tipos de legislação que impactam na concretização de negócios e parcerias, são desafios permanentes, destacou o administrador, realçando, no entanto que «é um mercado interno gigante, de 60 ou 70 milhões, em que vale a pena apostar com produtos diferenciadores e inovadores».
Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, destacou na sua intervenção a aposta numa promoção de Portugal que é mais do que falar de um país só para visitar: «Promovemos Portugal como algo muito maior, um país inclusivo, onde vale a pena investir, viver, estudar, comprar segunda residência, e que merece mais do que uma visita».
O dirigente apontou igualmente a necessidade de estar permanentemente a antecipar tendências e a encontrar oportunidades para servir qualquer pessoa, com qualquer objetivo: um turista, um investidor, ou quem queira vir viver para cá. Por isso, tem sido muito importante a promoção feita em meios digitais: «Em 2018 conseguimos impactar 170 milhões de pessoas
de forma digital, com uma campanha feita em países por todo o mundo. Criámos mais de 150 vídeos/conteúdos», acrescentando que Portugal é já um exemplo de benchmark para outros destinos.
Ilka Varela de Bares, embaixadora do Panamá, abriu o segundo dia dos Open Days PME Connect, que decorrem em Lisboa de 20 a 22 de fevereiro, apresentando o Panamá, um país pequeno, localizado entre a América do Sul e a América Central. Esta localização privilegiada proporcionou o seu desenvolvimento ao nível das infraestruturas e redes de transportes; com o
terceiro melhor aeroporto da Améria Latina, que terá uma plataforma logística que será única nesta região do mundo. Enquanto plataforma de conetividade é uma excelente aposta para a internacionalização para todas as empresas, nomeadamente no setor do turismo.
A embaixadora referiu a realização das Jornadas Mundiais da Juventude como exemplo do dinamismo do país, fazendo a ligação a Portugal, o próximo anfitrião do evento, o que traz muitas expetativas para os jovens panamianos que visitarão Portugal.
Vitor Neto, vice-presidente da AIP e antigo secretário de estado do Turismo, salientou que «o turismo é uma constelação de serviços a nível regional, nacional e internacional, e é assim que o turismo deve ser pensado, porque o sucesso no turismo depende do trabalho de um conjunto de atividades e de diversos níveis empresariais, e todos são imprescindíveis». «Além do mais, os turistas são todos diferentes, e se não tivermos em conta esta multiplicidade corremos o risco de errar», alertou o dirigente.
Miguel Eiras Antunes, partner da Deloitte, falou sobre o desenvolvimento do PME Connect no que respeita à adesão das empresas, grandes, medias e pequenas, ao projeto. A dificuldade em encontrar parcerias estratégicas era um dos pontos mais referidas pelas PME, e foi este um dos pontos mais trabalhados e valorizados ao longo do trabalho realizado. Mudar mentalidades e vocacionar as empresas para a cooperação é um dos principais objetivos do PME Connect, e o sucesso deste projeto demonstra-se já nas parcerias celebradas.
Os “Open Days PME Connect” são um evento de business networking em que serão partilhadas experiências no âmbito do projeto PME Connect e feito um balanço do trabalho realizado até aqui, no Auditório da Casa da América Latina e UCCLA, em Lisboa. Ao longo dos três dias, de 20 a 22 de fevereiro, em que intervirão mais de 80 oradores, entre representantes
de grandes empresas portuguesas, PME e organismos públicos, representações diplomáticas, académicos e membros do governo, serão apresentados, igualmente, casos concretos de experiências internacionais, para além de serem transmitidas diferentes visões e conhecimento sobre a internacionalização e competitividade da economia portuguesa.
Este evento de business networking está aberto à participação de todos os interessados, que poderão inscrever-se através do site https://aippmeconnect.com/.
Fotografias anexas:
Ilka Varela de Bares;
Vítor Neto;
Luís Araújo;
José Luís Arnaut:
Painel_A internacionalização e o futuro no setor do Turismo: (da esquerda para a direita)
Raúl Castro (CM Leiria), Pedro Santos Silva (Pestana Hotel Group), José Luís Arnaut (ANA),
Miguel Frasquilho (TAP), Rui Gidro (Deloitte).
Créditos Joaquim Morgado | Color Shop